Contorno Viário da Grande Florianópolis
Contorno da BR-101/SC | |
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Nome popular | Contorno Viário da Grande Florianópolis |
Inauguração | 9 de agosto de 2024 |
Extensão | 50 km |
Extremos • BR-101 Norte: • BR-101 Sul: | Biguaçu, Santa Catarina Palhoça, Santa Catarina |
Anel em torno | Região Metropolitana de Florianópolis |
Interseções | BR-101 SC-407 SC-281 BR-282 |
Concessionária | Autopista Litoral Sul |
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Rodovias de Santa Catarina |
O Contorno da BR-101/SC[1], nome oficial do Contorno Viário da Grande Florianópolis, também chamado Contorno Viário de Florianópolis, é uma rodovia brasileira com características de autoestrada e anel viário localizada entre os municípios de Biguaçu, São José e Palhoça, na Região Metropolitana de Florianópolis. Com 50 quilômetros, sua função é o desvio de parte do trânsito da BR-101, especialmente o de caminhões e outros veículos que não tenham como destino final a Grande Florianópolis, visto que o trecho urbano da rodovia está saturado com o trânsito local.
É uma rodovia federal, anexa à BR-101, fazendo parte da concessão do trecho desta feita com a empresa Arteris através de sua subsidiária Autopista Litoral Sul, que foi quem a construiu. As obras, previstas inicialmente para encerrar em 2012, atrasaram por diversas razões por muitos anos, com a inauguração acontecendo apenas no dia 9 de agosto de 2024 e a abertura ao tráfego no dia seguinte.[2]
Durante o período de obras, foi considerada a maior obra viária em andamento no Brasil.[2] Existem controvérsias sobre os impactos da obra nos bairros cortados por ela e também quanto à ocupação próxima a via e a sua capacidade de reduzir os problemas de trânsito da região, já que o projeto foi feito há mais de uma década, período no qual a população residente aumentou. No entanto, após a inauguração, o tempo de viagem, o número de acidentes, a quantidade de veículos pesados e as filas na BR-101 diminuíram, como planejado.[3]
Histórico
Ideia e concessão privada
A proposta de um contorno para desviar o trânsito pesado da Grande Florianópolis existe desde 1998, feito pelo ainda Departamento Nacional de Estradas e Rodagem (DNER), o atual Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT). Sua execução deveria ter sido iniciada logo após o fim da duplicação da BR-101 nos municípios envolvidos, que acabou em 2001, mas nunca foi feita, e acabou entrando no pacote da concessão do trecho norte da BR-101 catarinense. Assim, a OHL Brasil, vencedora do leilão da concessão, ficou com a missão de realizar a obra em até quatro anos após o início da concessão, que foi em 2008.[4]
Com o contrato para a execução dos trabalhos feito, começaram os problemas que levariam ao atraso de anos. A OHL Brasil argumentou que o projeto estava ultrapassado e um outro precisava ser feito para pedir as licenças adequadas. O novo projeto feito pela concessionária em 2011, porém, diminuía o trajeto em 18km, retirando o início do Contorno do km 175 da BR-101 e passando para a região do entroncamento da BR-101 com a SC-407, no km 195,5, já na zona urbana de Biguaçu.[5] Após reclamações da população e de autoridades, a OHL voltou ao trajeto original - mas com o projeto alterado tendo sido enviado para licenças, os atrasos aumentaram.[6][7] Em fevereiro de 2012, o primeiro prazo previsto foi vencido. Seria a primeira de outras oito previsões de finalização.
Outras solicitações e mudanças aconteceram no trecho mais ao sul, na Palhoça. A sugestão de finalizar a rodovia ao sul do Rio Cubatão, retirando o final de uma área mais urbanizada, não foi aceita, e as obras foram autorizadas no fim de 2012 pela ANTT.[8][9] Entretanto, loteamentos surgidos no caminho previsto pela rodovia acabaram forçando alterações no projeto e a construção de túneis não previstos inicialmente levando o traçado a contornar uma área maior e encarecendo o projeto, que foi apresentado em 2013 pela Arteris, que comprou a OHL Brasil no final de 2012, com prazo de conclusão em 2015.[10][5][4]
A década da construção
As obras só começaram de fato em maio de 2014, na região entre a SC-281 e o Alto Forquilhas, em São José, onde o projeto não mudou e as licenças estavam todas feitas, com o prazo de conclusão passando pra 2017. Além dos três túneis na Palhoça no novo traçado, um quarto túnel entre São José e Biguaçu também teve de ser adicionado ao projeto.[5][11]
Em 2016, as obras seguiam em dois trechos, em Biguaçu e em São José, e menos de 50% das desapropriações necessárias tinham sido feitas. Em 2017, se previa o final das obras em dezembro de 2019, e no mesmo ano já se previa o fim apenas em 2020.[12][4] Outros atrasos se seguiram com o passar dos anos, por motivos variados, como três paralisações de trabalhadores em 2018, que exigiam melhores condições de trabalho,[13] quando a previsão já tinha passado para dezembro de 2021 - no mesmo ano, em maio, a previsão foi revista pra 2022.[14] Em 2019, Palhoça entrou com uma ação na Justiça Federal contestando a demora, cuja não conclusão impactaria na mobilidade da cidade. Nessa altura, o trecho palhocense era o mais atrasado, e o contorno tinha 34,4km concluídos, 68,8% do total, a maior parte em São José e Biguaçu. A justificativa pelo atraso, segundo a Arteris, era a complexidade do novo traçado com túneis causada pelos loteamentos da Palhoça, que não estavam previstos inicialmente.[5] Como resultado dessa ação, um novo prazo foi estabelecido: dezembro de 2023. Ele acabou também não sendo cumprido, levando políticos palhocenses a pedirem a abertura dos pedágios da Autopista Litoral Sul como punição.[15][16] A justiça negou o pedido.[17] Em 2019, a empreiteira contratrada pela Arteris, a Salini, desistiu da obra, e a Camargo Corrêa a assumiu. Em 2022, foi a vez da Camargo Corrêa desistir, e a Arteris contrata seis empresas para cobrir os trechos que faltavam.[4]
Em junho de 2023, 75% da obra estavam concluídas.[18] Pouco depois, uma empreiteira responsável pelo trecho de Palhoça - uma das seis contratadas em 2022 - abandonou a obra, e tanto ela quanto a Arteris foram multadas pelo Procon.[19] Quatro meses depois, mais 10% foram concluídas e a nova previsão do fim da obra passou para julho de 2024.[2] Uma nova polêmica surgiu no trecho da Palhoça envolvendo os bairros Aririú e Alto Aririú, onde a rodovia cortou a principal avenida local, levando os moradores a pedir mudanças no traçado para garantir o acesso aos serviços essenciais que ficaram de um lado ou outro da via, o que não foi atendido inicialmente.[20] A ANTT acabou autorizando uma passagem subterrânea mais tarde.[21]
No fim de dezembro, a intersecção com a BR-101 foi encerrada em Biguaçu, enquanto na Palhoça o último trecho que estava separado foi interligado a rodovia.[22][23] Em fevereiro de 2024, 94% das obras estavam concluídas, e no fim do mês só faltava a conclusão do trecho entre a BR-282 e a BR-101 na Palhoça, com cerca de 5km, para finalizar a obra por completo.[24]
Liberação do trânsito e inauguração
Após alguns dias entre o fim de julho e início de agosto para a cerimônia de inauguração e da liberação do trânsito serem divulgados, a data oficial foi fixada no dia 9 de agosto de 2024 para aproveitar a presença do presidente Luis Inácio Lula da Silva a Santa Catarina para inaugurar a obra.[25][26][27] O trânsito pelas pistas foi liberado às 9h do dia seguinte.[28] A previsão de fim dos trabalhos, no entanto, era no dia 31 de julho, o que não aconteceu, com obras de acabamento ainda acontecendo no início de agosto.[4][29]
As obras de acabamento, como os reparos nos bairros vizinhos a rodovia que foram afetados pelas obras, seguiram depois da liberação das pistas. Um viaduto na Guarda do Cubatão teve de receber reforço e no fim de agosto ainda não havia sido liberado para veículos, separando a comunidade local.[30] Há ainda obras complementares extras como a criação dos postos da concessionária e da Polícia Rodoviária Federal, que ainda estão em planejamento.[4][31][32]
Nos primeiros dias, motoristas que trafegaram elogiaram a nova rodovia, e reportagens verificaram que o número de caminhões diminuiu na BR-101.[33][34] Após um mês de liberação, uma diminuição de 30,1% no número de acidentes e 9,4% no número de vítimas no trecho urbano da BR-101 foi constatada, e essa queda foi creditada ao uso da nova via. Mais de cem mil veículos usaram o Contorno em casa sentido.[3][35] A falta de sinal de celular e a presença de animais na pista foram algumas das críticas[36], além do excesso de velocidade de muitos motoristas. Apesar disso, o primeiro mês registrou apenas sete acidentes, sem mortes.[37]
Projeto e execução
A ideia do projeto, similar a outros de contornos de zonas urbanas, é transferir da BR-101 o trânsito que não é obrigado a passar pela Grande Florianópolis, diminuindo o fluxo de veículos na via em até 20%. Segundo a concessionária Arteris, o trajeto levaria 38 minutos, gerando um ganho de 1h22, em média, em relação a atual BR-101 em horário de pico.[38] Entretanto, o aumento de moradores da região pode acabar reduzindo o impacto positivo do contorno, e entidades e especialistas alertam para a ocupação do território perto da via.[5][39] Outros impactos vieram da própria obra, com ruas e casas sendo afetadas por rachaduras e com a alteração do escoamento de água gerando alagamentos. além da divisão física de comunidades ao meio.[4]
O traçado foi pensado para não ter curvas muito acentuadas e poucos acessos, permitindo assim manter uma velocidade de 100km/h, plano que foi mantido mesmo com as alterações desde o projeto original de 1998 até o que foi executado. No projeto final, a rodovia tem seis acessos por trevos, sete pontes e 20 passagens em desnível, além dos quatro túneis duplos. Para manter a velocidade sob controle, são previstos 44 radares cuja instalação deve se dividir entre 2024 e 2025, com os primeiros sendo instalados nos túneis.[21][31] No contrato de construção não foram previstos a colocação de câmeras, a iluminação de toda a rodovia - foram colocadas luzes apenas nos acessos - ou a construção do posto da Polícia Rodoviária Federal, que deverá ser em São José.[1][31][32]
Segundo dados da concessionária, foram feitas durante a obra 18 milhões de m³ de movimentação de terra, com um milhão de m³ escavados em solo e rocha dos túneis. Foram usados mais três milhões de metros de geodreno, 667 vigas pré-moldadas, 188 mil m³ de concreto, 50.000 metros de fundações cravadas e 470 toneladas de concreto asfáltico.[40]
Durante a obra, entre reparos e medidas de compensação, mais de 14 mil mudas foram plantadas, incluindo 166 hectares no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, e 56 mil espécies invasoras, como 30 mil pinheiros americanos, foram removidas. Mais de uma dezena de sítios arqueológicos foram encontrados durante a obra e 7.990 artefatos foram resgatados e preservados.[26]
O orçamento inicial da obra foi de R$ 400 milhões, mas as mudanças de projeto levaram o orçamento a mais de três bilhões de reais. No final das obras, a Arteris já tinha investido 3,9 bilhões de reais.[24] Parte do valor foi conseguida através de financiamentos e investidores públicos e privados, especialmente junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que investiu R$ 850 milhões para a Arteris.[41]
Extensão
O Contorno Viário passa pelo interior de três cidades em treze bairros, sendo uma rodovia duplicada com quatro túneis duplos e seis acessos. O km 0 fica na divisa entre Governador Celso Ramos e Biguaçu, no Rio Inferninho, de onde as pistas partem do km 175 da BR-101, avançando rumo ao interior. A estrada de Três Riachos é o segundo acesso ao Contorno, e a primeira rodovia que atravessa o caminho do Contorno é a SC-407, que liga Biguaçu a Antônio Carlos e cujo encontro marca o terceiro acesso do Contorno.
Na divisa entre Biguaçu e São José, no Morro da Rússia a rodovia entra em um túnel, o Túnel 4 - apesar de ser o primeiro da quilometragem, o túnel foi o último a ser planejado, daí seu número - saindo no Alto Forquilhas. Ao sul de São José, entre o Sertão do Maruim e a Colônia Santana, acontece o entroncamento com a segunda rodovia, a SC-281, que liga São José a São Pedro de Alcântara. Este é o quarto acesso ao Contorno, o único em São José, e é neste local que a Autopista Litoral Sul e a Polícia Rodoviária Federal pretendem instalar postos.[1] Esse acesso trouxe preocupações quanto a estrutura da rodovia estadual suportar o trafego entre a BR-101 e o Contorno.[42]
Na Palhoça, o caminho da rodovia encontra o Morro da Cova Funda, onde ficam os túneis 1 e 2, e logo depois, o Morro do Gato, onde entra no último túnel, o 3, antes de chegar ao entroncamento com a BR-282, que liga a capital ao interior de SC, e é o quinto acesso da rodovia. Finalmente, no km 50, o Contorno chega ao final, retornando a BR-101 em seu km 220.
Referências
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- ↑ «Dinheiro da Arteris ou do governo federal: quem bancou a obra do Contorno Viário?». ND+. 14 de agosto de 2024. Consultado em 14 de agosto de 2024
- ↑ «A curva em 90° que pode inutilizar um acesso do Contorno Viário na Grande Florianópolis». ND+. 23 de julho de 2024. Consultado em 28 de julho de 2024
Ver também
Ligações externas
- Site do Contorno Viário de Florianópolis
- Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes