Método de Wiener–Hopf

O Método de Wiener–Hopf é uma técnica amplamente utilizada em matemática aplicada. Foi desenvolvido inicialmente por Norbert Wiener e Eberhard Hopf como um método para resolver sistemas de equações integrais, porém foi aplicado com sucesso para resolver equações diferenciais parciais bidimensionais com condições de contorno mistas sobre o mesmo contorno. Em geral, o método explora as propriedades de funções complexas mediante transformação. A transformação típica utilizada é a transformada de Fourier, porém outras transformações já foram empregadas, como a transformada de Mellin.

Em geral, o problema de valores sobre o contorno é transformado, e o sistema resultante é usado para definir um par de funções complexas (tipicamente denotado com subscritos '+' e '-'), que são respectivamente analíticas nas metades superior e inferior do plano complexo, com crescimento não mais rápido que polinômios nestas regiões. Estas duas funções coincidem em alguma região do plano complexo, tipicamente uma tira estreita contendo o eixo real. A extensão analítica garante que estas duas funções definem uma função analítica simples em todo o plano complexo, e o Teorema de Liouville implica que esta função é um polinômio incógnito, que é normalmente zero ou constante. A análise das condições nas bordas e vértices possibilita determinar o grau deste polinômio.

Decomposição de Wiener–Hopf

O ponto crucial em muitos problemas de Wiener-Hopf é decompor uma função arbitrária Φ {\displaystyle \Phi } em duas funções Φ ± {\displaystyle \Phi _{\pm }} com as propriedades acima delineadas. Em geral, isto pode ser feito escrevendo

Φ + ( α ) = 1 2 π i C 1 Φ ( z ) d z z α {\displaystyle \Phi _{+}(\alpha )={\frac {1}{2\pi i}}\int _{C_{1}}\Phi (z){\frac {dz}{z-\alpha }}}

e

Φ ( α ) = 1 2 π i C 2 Φ ( z ) d z z α , {\displaystyle \Phi _{-}(\alpha )=-{\frac {1}{2\pi i}}\int _{C_{2}}\Phi (z){\frac {dz}{z-\alpha }},}

onde os contornos C 1 {\displaystyle C_{1}} e C 2 {\displaystyle C_{2}} são paralelos ao eixo real, mas passam acima e abaixo do ponto z = α {\displaystyle z=\alpha } , respectivamente.

Similarmente, funções escalares arbitrárias podem ser decompostas em um produto de funções +/-, isto é, K ( α ) = K + ( α ) K ( α ) {\displaystyle K(\alpha )=K_{+}(\alpha )\,K_{-}(\alpha )} , primeiramente tomando o logarítmo, e então procedendo a decomposição de soma. Decomposição de produtos de funções matriciais (que ocorrem em sistemas multi-modais acoplados tal como em ondas elásticas) são mais problemáticos, pois o logarítmo não é bem definido, e qualquer decomposição pode ser não-comutativa. Uma pequena subclasse de decomposições comutativas foi obtida por Khrapkov, e vários métodos aproximados foram também desenvolvidos.

Exemplo

Consideremos a equação diferencial parcial linear

L x y f ( x , y ) = 0 , {\displaystyle {\boldsymbol {L}}_{xy}f(x,y)=0,}

onde L x y {\displaystyle {\boldsymbol {L}}_{xy}} é um operador linear que contém derivadas em relação a x {\displaystyle x} e y {\displaystyle y} , sujeita a condições mistas sobre y = 0 {\displaystyle y=0} , para uma função prescrita g ( x ) {\displaystyle g(x)} ,

f = g ( x ) {\displaystyle f=g(x)} para x 0 , f y = 0 {\displaystyle x\leq 0,\quad f_{y}=0} quando x > 0 {\displaystyle x>0} ,

decaindo no infinito, isto é, f 0 {\displaystyle f\rightarrow 0} com x {\displaystyle {\boldsymbol {x}}\rightarrow \infty } . Aplicando a transformada de Fourier em relação a x, resulta na seguinte equação diferencial ordinária

L y f ^ ( k , y ) P ( k , y ) f ^ ( k , y ) = 0 , {\displaystyle {\boldsymbol {L}}_{y}{\hat {f}}(k,y)-P(k,y){\hat {f}}(k,y)=0,}

onde L y {\displaystyle {\boldsymbol {L}}_{y}} é um operador linear contendo somente derivadas em y {\displaystyle y} , P ( k , y ) {\displaystyle P(k,y)} é uma função de y {\displaystyle y} e k {\displaystyle k} conhecida e

f ^ ( k , y ) = f ( x , y ) e i k x d x . {\displaystyle {\hat {f}}(k,y)=\int _{-\infty }^{\infty }f(x,y)e^{-ikx}{\textrm {d}}x.}

Se uma solução particular desta equação diferencial ordinária que satisfaz o decaimento necessário no infinito é denotada por F ( k , y ) {\displaystyle F(k,y)} , uma solução geral pode ser expressa como

f ^ ( k , y ) = C ( k ) F ( k , y ) , {\displaystyle {\hat {f}}(k,y)=C(k)F(k,y),}

sendo C ( k ) {\displaystyle C(k)} uma função incógnita a ser determinada pelas condições de contorno sobre y = 0 {\displaystyle y=0} .

O ponto crucial é decompor f ^ {\displaystyle {\hat {f}}} em duas funções f ^ + {\displaystyle {\hat {f}}_{+}} e f ^ {\displaystyle {\hat {f}}_{-}} , analíticas nos semi-planos superior e inferior do plano complexo, respectivamente

f ^ + ( k , y ) = 0 f ( x , y ) e i k x d x , {\displaystyle {\hat {f}}_{+}(k,y)=\int _{0}^{\infty }f(x,y)e^{-ikx}{\textrm {d}}x,}
f ^ ( k , y ) = 0 f ( x , y ) e i k x d x . {\displaystyle {\hat {f}}_{-}(k,y)=\int _{-\infty }^{0}f(x,y)e^{-ikx}{\textrm {d}}x.}

As condições de contorno fornecem então

g ^ ( k ) + f ^ + ( k , 0 ) = f ^ ( k , 0 ) + f ^ + ( k , 0 ) = f ^ ( k , 0 ) = C ( k ) F ( k , 0 ) {\displaystyle {\hat {g}}(k)+{\hat {f}}_{+}(k,0)={\hat {f}}_{-}(k,0)+{\hat {f}}_{+}(k,0)={\hat {f}}(k,0)=C(k)F(k,0)}

e, com derivadas parciais em relação a y {\displaystyle y} ,

f ^ ( k , 0 ) = f ^ ( k , 0 ) + f ^ + ( k , 0 ) = f ^ ( k , 0 ) = C ( k ) F ( k , 0 ) . {\displaystyle {\hat {f}}'_{-}(k,0)={\hat {f}}'_{-}(k,0)+{\hat {f}}'_{+}(k,0)={\hat {f}}'(k,0)=C(k)F'(k,0).}

Eliminando C ( k ) {\displaystyle C(k)} resulta

g ^ ( k ) + f ^ + ( k , 0 ) = f ^ ( k , 0 ) / K ( k ) , {\displaystyle {\hat {g}}(k)+{\hat {f}}_{+}(k,0)={\hat {f}}'_{-}(k,0)/K(k),}

com

K ( k ) = F ( k , 0 ) F ( k , 0 ) . {\displaystyle K(k)={\frac {F'(k,0)}{F(k,0)}}.}

Agora K ( k ) {\displaystyle K(k)} como o produto das funções K {\displaystyle K_{-}} e K + {\displaystyle K_{+}} , que são analíticas nos semi-planos superior e inferior, respectivamente, ou seja, K ( k ) = K + ( k ) K ( k ) , {\displaystyle K(k)=K_{+}(k)K_{-}(k),} onde

log K = 1 2 π i log ( K ( z ) ) z k d z , Im k > 0 , {\displaystyle {\hbox{log}}K_{-}={\frac {1}{2\pi i}}\int _{-\infty }^{\infty }{\frac {{\hbox{log}}(K(z))}{z-k}}{\textrm {d}}z,\quad {\hbox{Im}}k>0,}
log K + = 1 2 π i log ( K ( z ) ) z k d z , Im k < 0. {\displaystyle {\hbox{log}}K_{+}=-{\frac {1}{2\pi i}}\int _{-\infty }^{\infty }{\frac {{\hbox{log}}(K(z))}{z-k}}{\textrm {d}}z,\quad {\hbox{Im}}k<0.}

Consequentemente,

K + ( k ) g ^ + ( k ) + K + ( k ) f ^ + ( k , 0 ) = f ^ ( k , 0 ) / K ( k ) K + ( k ) g ^ ( k ) , {\displaystyle K_{+}(k){\hat {g}}_{+}(k)+K_{+}(k){\hat {f}}_{+}(k,0)={\hat {f}}'_{-}(k,0)/K_{-}(k)-K_{+}(k){\hat {g}}_{-}(k),}

onde foi assumido que g {\displaystyle g} pode ser decomposta na soma de duas funções g + {\displaystyle g_{+}} e g {\displaystyle g_{-}} , que são analíticas nos semi-planos superior e inferior, respectivamente. Agora, como o lado esquerdo da equação acima é analítico no semi-plano inferior, enquanto o lado direito é analítico no semi-plano superior, a continuação analítica garante a existência de uma função em todo o plano, que coincide com o lado esquerdo ou com o lado direito em seus respectivos semi-planos. Além disso, como pode ser mostrado que as funções em cada um dos lados da equação acima decaem para grandes valores de k {\displaystyle k} , a aplicação do teorema de Liouville mostra que esta única função é identicamente zero, e portanto,

f ^ + ( k , 0 ) = g ^ + ( k ) , {\displaystyle {\hat {f}}_{+}(k,0)=-{\hat {g}}_{+}(k),}

e assim

C ( k ) = g ^ ( k ) g ^ + ( k ) F ( k , 0 ) . {\displaystyle C(k)={\frac {{\hat {g}}(k)-{\hat {g}}_{+}(k)}{F(k,0)}}.}

Ver também

  • Filtro de Wiener

Ligações externas

  • «O Método de Wiener-Hopf, por Michiel Hazewinkel» (em inglês) 
  • «O Método de Wiener-Hopf, no Wikiwaves» (em inglês)