Problema de Dirichlet

Em matemática, um problema de Dirichlet consiste em encontrar uma função que satisfaça uma equação diferencial parcial (EDP) dada no interior de uma região dada e que toma valores prescritos na fronteira (contorno) desta.

Originalmente, o problema foi proposto para a equação de Laplace. Nesse caso ele pode ser apresentado da seguinte forma: dada uma função f {\displaystyle f} definida no contorno de um dado conjunto em Rn, existe uma única função contínua u diferenciável continuamente duas vezes no interior e contínua no contorno, tal que u {\displaystyle u} é harmônica no interior e u = f {\displaystyle u=f} no contorno?

A exigência imposta sobre u {\displaystyle u} na fronteira do conjunto é chamada de condição de contorno de Dirichlet. A questão principal é provar a existência de uma solução. A unicidade pode ser demonstrada usando-se o princípio do máximo.

História

O problema de Dirichlet é nomeado em homenagem a Lejeune Dirichlet, que propôs uma solução para um método variacional que tornou-se conhecido como princípio de Dirichlet. A existência de uma única solução é muito plausível pelo 'argumento físico': qualquer distribuição de carga no contorno deveria, pelas leis da eletrostática, determinar um potencial elétrico como solução.

Entretanto, Weierstrass encontrou uma falha no argumento de Dirichlet, e uma rigorosa prova de existência foi encontrada somente em 1900 por Hilbert. Ocorre que a existência de uma solução depende delicadamente da suavidade do contorno e os dados prescritos.

Solução geral

Para um domínio D {\displaystyle D} tendo um contorno suficientemente suave D {\displaystyle \partial D} , a solução geral para o problema de Dirichlet é dada por

u ( x ) = D ν ( s ) G ( x , s ) n d s {\displaystyle u(x)=\int _{\partial D}\nu (s){\frac {\partial G(x,s)}{\partial n}}ds}

onde G ( x , y ) {\displaystyle G(x,y)} é a função de Green para a equação diferencial parcial, e

G ( x , s ) n = n ^ s G ( x , s ) = i n i G ( x , s ) s i {\displaystyle {\frac {\partial G(x,s)}{\partial n}}={\widehat {n}}\cdot \nabla _{s}G(x,s)=\sum _{i}n_{i}{\frac {\partial G(x,s)}{\partial s_{i}}}}

é a derivada da função de Green ao longo do vetor unidade com orientação normal interno n ^ {\displaystyle {\widehat {n}}} . A integração é realizada sobre o contorno, com medida d s {\displaystyle ds} . A função ν ( s ) {\displaystyle \nu (s)} é dada pela solução única à equação integral de Fredholm do segundo tipo,

f ( x ) = ν ( x ) 2 + D ν ( s ) G ( x , s ) n d s . {\displaystyle f(x)=-{\frac {\nu (x)}{2}}+\int _{\partial D}\nu (s){\frac {\partial G(x,s)}{\partial n}}ds.}

A função de Green a ser usada na integral acima é uma que desaparece no contorno:

G ( x , s ) = 0 {\displaystyle G(x,s)=0}

para s D {\displaystyle s\in \partial D} e x D {\displaystyle x\in D} . Tal função de Green é usaulmente uma soma da função de Greem de campo livre e uma solução harmônica à equação diferencial.

Existência

O problema de Dirichlet para funções harmônicas sempre tem uma solução, e esta solução é única, quando o contorno é suficientemente suave e f ( s ) {\displaystyle f(s)} é contínua. Mais precisamente, tem, solução quando

D C ( 1 , α ) {\displaystyle \partial D\in C^{(1,\alpha )}}

para 0 < α {\displaystyle 0<\alpha } , onde C ( 1 , α ) {\displaystyle C^{(1,\alpha )}} denota a condição de Hölder.

Exemplo: o disco unidade em duas dimensões

Em alguns casos simples o problema de Dirichlet pode ser resolvido explicitamente. Por exemplo, a solução para o problema de Dirichlet para o disco unidade em R2 é dado pela fórmula integral de Poisson.

Se f {\displaystyle f} é uma função contínua no contorno D {\displaystyle \partial D} de um disco unidade aberto D {\displaystyle D} , então a solução para o problema de Dirichlet é u ( z ) {\displaystyle u(z)} dado por

u ( z ) = { 1 2 π 0 2 π f ( e i ψ ) 1 | z | 2 | z e i ψ | 2 d ψ if  z D f ( z ) if  z D . {\displaystyle u(z)={\begin{cases}{\frac {1}{2\pi }}\int _{0}^{2\pi }f(e^{i\psi }){\frac {1-\vert z\vert ^{2}}{\vert z-e^{i\psi }\vert ^{2}}}d\psi &{\mbox{if }}z\in D\\f(z)&{\mbox{if }}z\in \partial D.\end{cases}}}

A solução u {\displaystyle u} é contínua no disco unidade fechado D ¯ {\displaystyle {\bar {D}}} e harmônica sobre D . {\displaystyle D.}

O integrando é conhecido como o núcleo de Poisson; esta solução segue-se da função de Green em duas dimensões:

G ( z , x ) = 1 2 π log | z x | + γ ( z , x ) {\displaystyle G(z,x)=-{\frac {1}{2\pi }}\log \vert z-x\vert +\gamma (z,x)}

onde γ ( z , x ) {\displaystyle \gamma (z,x)} é harmônica

Δ x γ ( z , x ) = 0 {\displaystyle \Delta _{x}\gamma (z,x)=0}

e escolhida tal que G ( z , x ) = 0 {\displaystyle G(z,x)=0} para x D {\displaystyle x\in \partial D} .

Generalizações

Problemas de Dirichlet são típicos de equações diferenciais parciais elípticas, e teoria potencial, e a equação de Laplace em particular. Outros exemplos incluem a equação biharmônica e equações relacionadas em teoria da elasticidade.

Eles são alguns dos diversos tipos de classes de problemas de EDP definidos pela informação dada no contorno, incluindo problemas de Neumann e problemas de Cauchy.

Referências

  • A. Yanushauskas (2001), "Dirichlet problem", in Hazewinkel, Michiel, Encyclopaedia of Mathematics, Springer, ISBN 978-1556080104
  • S. G. Krantz, The Dirichlet Problem. §7.3.3 in Handbook of Complex Variables. Boston, MA: Birkhäuser, p. 93, 1999. ISBN 0-8176-4011-8.
  • S. Axler, P. Gorkin, K. Voss, The Dirichlet problem on quadratic surfaces Mathematics of Computation 73 (2004), 637-651.
  • Gilbarg, David; Trudinger, Neil S. (2001), Elliptic partial differential equations of second order, ISBN 978-3-540-41160-4 2nd ed. , Berlin, New York: Springer-Verlag 

Ver também

  • Método Perron

Ligações externas